sexta-feira, 23 de outubro de 2009

Tratamento Cirúrgico da Hérnia do Trabalhador direcionado para o melhor resultado do indicador "tempo de retorno ao trabalho" .

GUIDELINE
Hérnia Inguinal do Trabalhador

Diretrizes que gerenciam o fluxo do trabalhador com hérnia inguinal na direção do tratamento que melhor e mais rapidamente permite sua plena reintegração na atividade laborativa.

RECOMENDAÇÕES
RECOMENDAÇÕES PRINCIPAIS
Epidemiologia e diagnóstico Inicial
Hérnias inguinais diretas tem manifestação comum em vários ramos empresariais (indústrias). Aproximadamente 96% das hérnias da região da virilha são inguinais e 4% femorais (2). Hérnias inguinais são mais comuns em homens (9 para 1) enquanto as femorais são mais comuns em mulheres (4 para 1), particularmente mulheres idosas (3). O risco de desenvolver hérnia inguinal durante a vida gira em torno de 25% em homens e menos de 5% em mulheres. A cirurgia da hérnia inguinal engloba um custo social significativo, particularmente quando se contabiliza os dias de afastamento do trabalho. O custo com cirurgias de hérnia nos Estados Unidos é estimado em 2,5 bilhões de dólares por ano. Os custos indiretos são difíceis de determinar mas certamente representam valores substanciais. Ocorrem, se pesquisadas, em 2 a 3% da população. Hérnias podem ser primárias (65%), recidivadas (20%), ou bilaterais (15%).

Trabalho como causa de hérnias da região ínguino-femoral :
# Hérnias inguinais diretas se formam à partir da ruptura dos planos músculo-aponeuróticos diretamente pela parede inguinal posterior (medialmente aos vasos epigástricos inferiores). A história natural mais comum do surgimento destas hérnias é uma ruptura gradativa das camadas da parede, sem sintomas, no decorrer de alguns anos, quando um dia o paciente percebe o abaulamento em posição ortostártica. Entretanto, podem ocorrer eventos de surgimento súbito deste tipo de hérnia, ao fazer algum esforço físico com dor aguda típica de distensão muscular, localizada e no momento do esforço. É uma maneira mais rara de aparecimento da hérnia direta e é a única situação em que ela pode ser relacionada ao trabalho : se o evento surgimento da hérnia + dor ocorrer precisamente durante a atividade laboral (acidente de trabalho).
(*) Jurisprudência : TRT - 2ª R. - 8ª T. - Proc. 02970431542 - Ac. 02980483944 - Rel. Juíza Wilma Nogueira de Araújo Vaz da Silva - julg. em 31/08/98.
(**) Lei 8.213/91 Art. 21. Equiparam-se também ao acidente do trabalho, para efeitos desta Lei: I - o acidente ligado ao trabalho que, embora não tenha sido a causa única, haja contribuído diretamente para a morte do segurado, para redução ou perda da sua capacidade para o trabalho, ou produzido lesão que exija atenção médica para a sua recuperação".

# As hérnias inguinais indiretas e femorais não causadas pelo trabalho e são usualmente congênitas. Um evento doloroso pode ocorrer durante o trabalho mas como elas são pré-existentes, pelo menos de forma incipiente, a causa não é o esforço físico.

Observação importante: a definição anatômica entre hérnia inguinal direta ou indireta somente pode ser definitivamente obtida durante o ato cirúrgico, pelo cirurgião. Por isso, se o evento surgimento da hérnia + dor ocorrer precisamente durante a atividade laboral, a condução do caso deverá considerar a hipótese de ser uma hérnia direta, e que portanto estaria diretamente relacionada ao trabalho .
Quando a hérnia for classificada no ato operatório como mista (direta + indireta) sem o evento surgimento da hérnia + dor ocorrendo precisamente durante a atividade laboral, para fins de relação causal com o trabalho deverá ser entendida como indireta, pois na maioria dos casos o defeito congênito inicia o processo de destruição da parede posterior inguinal.
*

Avaliação Inicial
As duas formas de manifestação da hérnia inguinal no trabalho:
ABAULAMENTO DOR

Primeira consulta: com médico do trabalho (100%)
· Determinar o tipo do episódio ou acidente com levantamento de peso ou esforço.
· Determinar se o problema é agudo, subagudo, crônico ou de ínicio insidioso.
· Determinar a severidade e local anatômico específico da dor.
· Perguntar sobre a habilidade do paciente em levantar peso ou fazer o esforço relatado corretamente.
· Determinar se existe medicação em uso.
· Determinar alguma história médica pregressa, história de doença sistêmica ou história de hérnia prévia com incapacidade relacionada.
· Obter história de qualquer desconforto prévio ou de presença de hérnia.
· Investigar razões não relacionadas ao trabalho que comumente
Exacerbam hérnias (como tosse crônica, tabagismo, constipação, prostatismo). Observe que é muito improvável ocorrer hérnia como resultado de uma queda.
· Obter história familiar de hérnia.
Diagnóstico Presuntivo
· Hérnia inguinal direta ou indireta
· Hérnia femoral
· Hérnia umbilical ou ventral
É desnecessário diferenciar hérnias diretas e indiretas; ambas são tratadas com técnicas cirúrgicas similares.
Examine o paciente em pé e determine a presença ou ausência de assimetrias ou abaulamento visível. Verifique estes achados também durante tosse e esforço (manobra de Valsalva).
Se há suspeita de hidrocele use transiluminação: a hidrocele irá transiluminar, a hérnia com conteúdo protruído não. As hidroceles são problemas crônicos não compensáveis pelos direitos trabalhistas.
Se uma hérnia é encontrada examine o paciente em posição supina e certifique-se de que a mesma é redutível.
Uma hérnia irredutível nem sempre está estrangulada. Em posição ortostática uma hérnia irredutível aumentará de tamanho enquanto uma hérnia estrangulada não. Haverá outros sinais e sintomas de estrangulamento como a presença de massa palpável, firme e dolorosa junto ã região inguinal . Poderá estar associada a obstrução intestinal (com náuseas e vômitos, dor abdominal visceral, ausências de ruídos hidroaéreos, febre, leucocitose).
Exames de imagem como ultrassonografia, ressonância nuclear magnética (RNM), tomografia computadorizada (TC) são desnecessárias; com exceções.
Examine a outra região inguinal para diagnosticar hérnia bilateral.
Classifique a hérnia em um dos seguintes diagnósticos:
· Hérnia redutível
· Hérnia encarcerada
· Suspeita de hérnia estrangulada
Tratamento Inicial
1. Hérnia Redutível
· A cirurgia não é emergencial.
· Encaminhe para uma consulta com cirurgião de hérnias.
Hernia Center – Porto Alegre : Protocolo de Retorno ao Trabalho
Pós-avaliação do paciente sem hérnia ou com hérnia sem urgência que desenvolve trabalho leve: não há necessidade de afastamento do trabalho.
Pós-avaliação do paciente sem hérnia que desenvolve trabalho pesado: poderá necessitar de um período de afastamento (n.o de dias depende do caso).
Pós-avaliação do paciente com hérnia sem urgência que desenvolve trabalho pesado: poderá necessitar de um período de afastamento (n.o de dias depende do caso) e ser agendado com o cirurgião com a maior brevidade possível.
2. Hérnia encarcerada não estrangulada
O tratamento de hérnia encarcerada deve ser o encaminhamento ao cirurgião com brevidade.
3. Suspeita de hérnia estrangulada
Esta é uma situação de emergência cirúrgica e o paciente precisa ser avaliado prontamente pelo cirurgião.
Cirurgia
Realizada preferencialmente por especialista em cirurgia de hérnias (melhores resultado são obtidos por especialistas ) ; ou cirurgião geral.
Reparo urgente é necessário para hérnias de surgimento súbito e irredutíveis, ou para hérnias de surgimento crônico mas com que se tornam agudamente dolorosas, visto que pode indicar sofrimento vascular típico de estrangulamento.
A correção cirúrgica de quase todas as hérnias inguinais é recomendada . As hérnias inguinais devem ser reparadas porque aumentam de tamanho, levando a um reparo mais complexo com maior risco complicações e recorrências (como regra, hérnias inguinais grandes apresentam mais complicações do que as pequenas) . Entretanto, se os sintomas não são severos, a espera em operar poderá atingir 3 meses, como forma de melhor gerenciar agendas pessoais e empresariais. Hérnias femorais deverão ser cirurgicamente reparadas sempre devido ao alto índice de estrangulamento intestinal. Pacientes com hérnia inguinal sem urgência deverão ser avaliados pelo cirurgião no máximo em um mês após a detecção.
Duas formas de abordagem cirúrgica são as mais usadas: por inguinotomia (90%) e videolaparoscopia (10%). Técnicas abertas, por inguinotomia, podem ser feitas com anestesia local, raquidiana ou geral. Técnicas videolaparoscópicas requerem sempre anestesia geral.
A equipe Hernia Center utiliza a variante mais moderna da técnica aberta que é a hernioplastia por mini-incisão (HMI ) com tela tridimensional (***)

Para reparo inguinal primário, a HMI deve ser o procedimento cirúrgico preferencial. É uma cirurgia de invasão mínima, com os menores riscos atualmente existentes para complicações cirúrgicas ou anestésicas.


HMI :
- 40 minutos de tempo cirúrgico
- anestesia local com sedação (é a técnica com menor risco anestésico)
- dispensa intubação traqueal, o paciente mantém ventilação espontânea
- desconforto mínimo (50% dos pacientes dispensam o uso de analgésicos via oral)
- incisão de 4 cm
- alta hospitalar 2 horas após a cirurgia
- usa tela tridimensional
- pode deambular desde o primeiro dia (deslocamentos mínimos em casa)
- tem o menor índice de recidiva

Hernioplastia Convencional:
- 40 minutos de tempo cirúrgico
- anestesia raquidiana (abandonada nos EUA, gera retenção urinária e tem riscos inerentes como cefáléia em quase 1%)
- dispensa intubação traqueal
- incisão de 10 cm ou mais
- alta hospitalar após 8 horas (devido à anestesia raquidiana)
- usa tela plana fixada com sutura
- dificuldade de deambular no primeiro dia
- dor aos movimentos por mais tempo devido à maior dissecção e fixação da tela com suturas

Hernioplastia Videolaparoscópica:
- 60 minutos de tempo cirúrgico, ou mais
- anestesia geral (apresenta mais risco anestésico, especialmente em pacientes idosos ou com co-morbidades conforme Índice de Goldmann)
- exige intubação traqueal e na maioria das vezes curarização (relaxante muscular)
- 3 incisões de 1cm e 0,5 cm
- alta hospitalar após 8 horas ou mais (requer mais tempo de observação pelo potencial, ainda que mínimo, de complicações graves, principalmente sangramento intra-abdominal que não ocorre com as outras técnicas)
- usa tela plana fixada com grampos
- custo maior (exige anestesia geral, trocartes, grampeador endoscópico, equipamento e instrumental de videolaparoscopia)
- pode deambular desde o primeiro dia
- dor aos movimentos regride mais rapidamente
- apresenta maior índice de recidiva (2%) na média dos serviços que utiliza o método



Hernioplastia com Mini-incisão (HMI) e tela tridimensional:
# Trabalho de mesa (estático) ou modificado: 7 dias
# Trabalho Braçal: 14 dias
# Trabalho Pesado: 28 dias
A modificação temporária de função (para Trabalho Pesado) ou a restrição parcial de atividades ( para Trabalho Braçal) poderá fazer com que estas duas categorias de trabalhador sejam reintegradas à empresa em até 15 dias de afastamento, sem que o processo de recuperação precise do afastamento para benefício junto ao INSS.
Mesmo para as cirurgias de hérnias recorrentes (recidivadas) a técnica HMI poderá ser aplicada rotineiramente.
Hernioplastia Videolaparosópica
# Trabalho de mesa (estático) ou modificado: 7 dias
# Trabalho Braçal: 14 dias
# Trabalho Pesado: 28 dias

Hernioplastia Inguinal Tradicional
# Trabalho de mesa (estático) ou modificado: 14 dias
# Trabalho Braçal: 28 dias
# Trabalho Pesado: 60 dias


O procedimento HMI:
O nosso serviço padronizou o procedimento Hernioplastia Inguinal com Mini-incisão com Tela Tridimensional (HMI) com a tela PHS para tratamento cirúrgico de hérnia do trabalhador (Prolene Hernia System, Johnson&Johnson)(Fig.5), inserida através de inguinotomia de 4 cm feita com anestesia local + sedação.
Após dissecção das estruturas do canal inguinal e identificação das alterações anatômicas do caso, procedemos a abertura da parede posterior, medialmente aos vasos epigástricos inferiores. A tela tridimensional é então inserida e aberta na região pré-peritoneal, cobrindo internamente o anel miopectíneo de Fruchaud (Fig.6). A parte anterior da tela cobre o assoalho inguinal, fixada no ligamento inguinal e sobreposta à face anterior do músculo oblíquo interno e tendão conjunto, gerando mais estabilidade a estas estruturas músculo-tendinosas. O fechamento da aponeurose do oblíquo externo encerra o procedimento .